FEIRA DE MILÃO 2012
Semana de Design explora alternativas de uso do móvel sem perder de vista a questão ambiental
Maior encontro mundial do setor, a Semana de Design de Milão 2012 já começou. De hoje, 17, até domingo, 22, um total de
Público observa castiças da Kartell Home, durante o Salão do Móvel de Milão 2012, que começou dia 17 de abril e terminou no domingo, 22.
Durante a feira, eventos paralelos tomam conta da cidade italiana. O FuoriSaloni, por exemplo, faz uma mistura de comercial e experimental ao mostrar trabalhos de novos designers. Um dos destaques é a poltrona dobrável Beverly, de Antonio Citterio para B&B.
Na Zona Tortona, onde fica ateliês, showrooms e mostras alternativos, um dos destaques é a multimarcas parisiense Merci, que apresenta uma pop-up store que dura apenas até o fim de semana. A loja chega à semana italiana pelas mãos da arquiteta e e designer Paola Navone, que leva para a casa móveis contemporâneos, peças vintage e coleção de mesas e poltronas desenhadas por ela para a Eumunes.
Um dos destaques deste ano é o estande da marca francesa Roche Bobois, que sempre lança móveis de vanguarda e muito interessantes. Com cores fortes, como verde, azul claro, laranja e amarelo, as peças da marca se destacam em meio aos outros produtos do grande salão. Montado como se fosse uma vibrante sala de estar, o estande revela uma ideia muito legal: no piso, uma composição com 4 tapetes com estampas similares, porém em outros tons, cria um jogo divertido de olhar. Os pufezinhos que se encaixam também são a coisa mais linda! Ah, e a mesa de centro, é claro, incrível, sem comentários! rsrs...
Mais fotos das novidades da feira
Cozinha amarela e preta? Sim, porque não. Tendência.
Um jeito de dormir italiano.
Desenhado pelo festejado designer Philippe Starck, a coleção Axor de chuveiros. As torneiras tornam-se um sistema modular que oferece "experiências aquáticas" diversificadas.
Trazer a abstração para o mundo tradicional da carpintaria parece ser a intenção da empresa italiana Crcic com Mattiazzi.
Sala de banho na moda. Depois de lançar roupas de cama, almofadas e luminárias, a badalada grife Missoni Home está chegando ao banheiro por meio de uma parceria com a Vallvé. Ambiente criado pela arquiteta Consuelo Jorge, que esteve em Milão e nos presenteou com fotos do ambiente.
Banheira quadrada. Tendência.
Biblioteca suspensa. Conceito da Lago.
Outra banheira com desenho fora do convencional.
Design de Jean Prouve (1949) para a Vitra. Cômoda de Charles & Ray Eames.
Momento relax. Ligne Roset com design do Estúdio Dögg & Arnved.
Sofá desenhado por Andrei Munteanu para Kartell. Atenção para a mesa de centro.
Elegante, a cabine de banho de Chiocciola pode ser vista no showroom da Agape.
Poltrona da designer espanhola Patricia Urquiola para a B&B Italia. A criação não é nova, mas parece ter se tornado um ícone do bom design mundial. Por isso presente na feira de Milão deste ano.
Ambiente exótico da Cerasa.
Hall cinza, só elegância. Antonio Furniture, Muebles G3.
Poltronas em forma de flor premiadas no Salão de Milão deste ano. Design de Kati Meyer-Brühl.
Aconchego nos móveis para área externa. Design de Patricia Urquiola, coleção Vieques.
Este móvel lembra criações antiga dos Irmãos Campana, mas tem design de Massimo Pentru, para a Edra.
Lavabo de Gisella Innocenti. Destaque para o espelho e o revestimento escuro.
Novo modelo de sofá da grife Hemès.
A vedete deste banheiro é a coleção de lavatórios Urban, da brasileira Rocca.
Cozinha da tradicional empresa suiça de móveis Curtii Regale a Suediei, fundada em 1923.
Destaque deste quarto temático é o capitonê da cabeceira da cama, além do ambiente todo decorado em branco. Capitonê, aliás, que voltou à baila na decoração e está presente em várias peças do Salão.
Mais uma peça em que o capitê brilha.
Sofá Fenix. Designer Ludovica+Roberto Palomba, para a Driade.
O Salão de 2011
Dieter Rams, designer industrial alemão intimamente associado à empresa de eletroportáteis Braun, sintetizou recentemente sua abordagem de design na frase "weniger, besser aber", que pode ser traduzida como "menos, mas melhor". Ligado a uma concepção funcionalista do design, nos últimos tempos, seu nome têm vindo à tona sempre que se discutem os rumos do design internacional.
Antes de mais nada inovador e esteticamente atraente, um bom produto, nas palavras de Rams, precisa ser útil e fácil de se entender. Deve conter tão pouco design quanto for possível. Deve ser durável e produzido com atenção a seus mínimos detalhes. E é, fundamentalmente, comprometido com a preservação do meio ambiente. Em poucas palavras, o ideário defendido por nove entre dez lançamentos apresentados na grande quermesse milanesa do design.
De bem com a vida e inéditos em seus formatos, uma nova safra de móveis, cada vez mais orgânicos e desarticulados, desponta no horizonte. Entre mesas, cadeiras e armários, a flexibilidade de uso se torna palavra-chave, enquanto nos domínios dos estofados (incluindo camas), a descontração é a senha. Sentar, deitar ou apenas se recostar da forma mais cômoda e individual possível são atividades que passam a ser levadas muito a sério. Tão a sério, a ponto de se transformar em pura brincadeira.
Vale, por exemplo, transformar uma simples cadeira em mancebo, como fez a Moooi. Exagerar nas cores como Gaetano Pesce na Meritalia. Ou ainda oferecer um canteiro de cáctus como possibilidade de assento, como fez a dupla de estilistas-designers, Maurizio Galante e Tal Lancman, para a Cerruti Baleri.Na linha de frente de toda uma geração de jovens designers que têm na representação da natureza por meio de materiais sintéticos sua principal via de expressão.
Seriedade mesmo, e disso ninguém parece abrir mão, surge apenas quando entra em cena a preservação do planeta. "Da cabeça aos pés, ela é totalmente natural. Construída com madeira líquida, traz na sua composição cânhamo, bambu, linho. Nos ajuda a entender como será nosso amanhã", derrete-se o über designer Philippe Starck, diante de Zartan, cadeira inteiramente biodegradável, desenhada com Eugenie Quitlet, para a Magis.
Um entusiasmo compartilhado pelo designer de iluminação italiano Michele De Lucchi, que, em ano de Euroluce, vê no advento dos LEDs uma revolução no desenho das luminárias. Segundo ele, é inegável que estamos diante da fonte luminosa do futuro. "Até lá vamos continuar como insetos em volta da lâmpada, tentando desvendar suas potencialidades", brinca, em alusão à J.B. Schmetterling, luminária criada por Ingo Maurer: a mais completa síntese deste momento de transição.
Para além de sua função imediata, fato é que, em Milão 2011, o móvel, em sua dimensão física, mas também emocional, ensaia passos ainda mais largos. E, em direção a regiões até então inexploradas, flerta com a escultura. Dialoga com a moda. Pretende-se eterno, mas biodegradável. "Na verdade, tudo já foi feito. Mas no mundo dos sonhos estamos sempre em busca do novo, procurando por espécies desconhecidas", pontuou Marcel Wanders.
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Paraísos artificiais
O desejo de contato com a natureza leva designers a traduzir formas e texturas em seus móveis
Sustentabilidade e desejo expresso de estar em contato com a natureza são, já há algumas edições, assuntos em alta na Semana de Design de Milão. E assim prometem continuar por muitas outras.
Novidade mesmo, e isso pode ser constatado a cada ano, é a forma como esses temas são tratados.
Elevada à condição de parâmetro estético, a representação do mundo natural por meio de técnicas e materiais abertamente sintéticos povoou a imaginação dos designers. Como que recriando um universo particular, resinas reproduzindo estruturas naturais, como plantas e corais, além de falsas pedras e peles fake, pipocaram por todas as coleções. Sem falar nas avançadas - e cada vez mais realistas - técnicas de impressão digital.
Saltando aos olhos, a dimensão do móvel se amplia para atingir regiões até então inexploradas. Afinal, no mundo do design, parecem existir sempre novas possibilidades capazes de povoar nosso imaginário e nossa casa.
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Móveis fora de série
Entre os lançamentos, objetos que fogem do banal e são imunes a cópias
Na trilha de um consumidor exigente, que pensa duas vezes antes de comprar, mas coloca a exclusividade na dianteira de suas decisões, o mercado internacional de design cresce e se sofistica. Do móvel, não se exige mais apenas uma perfeita performance. Mas o compromisso de assumir uma presença definitiva no espaço doméstico. Fazer a diferença.
Complexos processos de moldagem. Resinas de última geração. Avançadas técnicas de impressão digital e - última palavra entre os fabricantes antenados - iluminação incorporada ao móvel. Para expressiva parcela do design made in Italy, o céu parece ser o limite. Principalmente, quando o objetivo é projetar o móvel além dos limites do banal e do descartável.
Paradoxo realizado, o móvel de design, que de início se pretendia de largo consumo, percorre assim, com evidente entusiasmo, as trilhas do objeto único e exclusivo. Com pretensão de dialogar de igual para igual com a escultura e com a arquitetura. Mas, acima de tudo, cada vez mais imune a cópias.