segunda-feira, 11 de junho de 2012

ECODESIGNERS E DESIGNERS SOCIAIS

Dois movimentos seguiam caminhos paralelos e independentes até se encontrarem nos anos de 1990, em acordo com a necessidade dos novos tempos. De um lado, o movimento social, dos intelectuais centrados em propor estratégias de inclusão e diminuição das desigualdades. Do outro, o ambiental, dos ativistas, que criavam programas de incentivo a produtos ecológicos e sistemas de certificação para impulsionar ações de redução de impactos no meio ambiente.

Com o relatório Bruntland, elaborado em 1987 pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, surge o primeiro elo entre eles: o conceito de crescimento sustentável, capaz de satisfazer às necessidades sem comprometer o igual direito às gerações futuras.

No Brasil, a ideia ganhou força com a ECO-92, mas foram os efeitos da perda de florestas, da poluição industrial e do descaso com os resíduos urbanos que fizeram nascer a primeira geração de ecodesigners e designers sociais por aqui. Em outros países do mundo o movimento já estava mais que engatinhando.

Do incômodo com a falta de zêlo pelo planeta e pelas pessoas, eles criaram as bases para um design consciente. Madeiras caídas na mata, certificadas ou de reflorestamento, ganharam ateliês e movelarias. O artesanato com matérias-primas naturais uniu o manejo sustentável dos recursos e a geração de trabalho e renda para comunidades carentes, antes desprovidas de esperança no amanhã.

Juntos, o social e o ambiental formaram mais que o vocabulário socioambiental, mais um jeito novo de fazer design. Veja a seguir alguns designers (renomados e outros quase nada conhecidos) que criaram peças memoráveis com sobras e descartes de matérias-primas, reuso de materiais pouco nobres e descartáveis.

A poltrona Rag Chair criada pelo designer Tejo Remy, é feita a partir de camadas de retalhos de tecidos não mais utilizados que são amarrados juntos a uma base, resultando em uma peça confortavelmente bela e de design único. Além dos retalhos disponíveis, o cliente ainda tem a opção de reciclar suas próprias roupas descartadas e as incluírem no projeto, trazendo à peça, preciosas lembranças. Saiba mais: www.droog.com

  Tropicalia:  cadeira feita a partir de plástico 100% reciclável. Criação da espanhola Patrícia Urquiola para a Moroso.

Poltrona Giramundo: criação do designer brasileiro Marcus Ferreira, feita a partir de restos de tecidos.
Nobody chair: Cadeiras em feltro prensado feitas a partir de garrafas de plástico, edição da Hay.

Poltrona Multidão, dos irmãos Campana. Não tem ninguém que olhe para essa cadeira e não dê uma risada, já que é toda feita com bichos de pelúcia. É mérito total dos Campana que a primeira reação seja lúdica, mas obviamente tem toda uma pensada ótima de reaproveitamento, de materiais brasileiros, e é aí que está a genialidade deles.


Tapete Tartufo: criação portuguesa feita de desperdícios de tecidos.
Cadeira Vermelha e Cadeira Favela: criação dos brasileiros irmãos Campana. Ambas feitas artesanalmente, uma com sobras de corda colorida e, outra, com tiras de madeira.








Talvez pelo charme brejeiro da nossa geografia, detentora de uma das naturezas mais exuberantes do mundo, a tropicália combine tanto com a estética alien-brüt (mais natureba do que marciana, no caso dos tupiniquins). Seja nas culturas caiçaras, caipiras ou urbanas desses brasis, a biomímica sempre teve espaço por aqui, com seus inúmeros sotaques. O banco assinado pela paisagista Renata Tilli (nu e cru, feito por uma artista que não é designer, mas que lida com plantas) e a luminária da Puntoluce (simbiose entre aspereza orgânica e luxo refinado) são dois exemplos categóricos.
Clássicos da mesma escola (dissecados muitas vezes neste blog), Hugo França e Pedro Petry alimentam uma produção que se apropria dos resíduos florestais desprezados pelo homem, interferindo minimamente neles. Julia Krantz (uma das minhas prediletas) acompanha a toada, com seu belo traço em busca do efeito in natura. (bowls de Pedro Petry, banco de Hugo França (no alto) e namoradeira de Julia Krantz).

Em Alagoas, um artesão conhecido como Seu Fernando juntava troncos desmatados, raízes trançadas, tocos retorcidos, galhos secos, madeiras desprezadas e quetais, para esculpir mesas, cadeiras e bancos de efeito mimético.  Este, Resto de toco: banquinho mimético do Seu Fernando, artesão lendário da Ilha do Ferro, falecido há alguns anos.
 Na Casa Cor São Paulo 2012, designers de um dos jardins utilizaram esta mesa, cujos pés lembram pernas e chifres de animais.

SEJA VOCÊ TAMBÉM UM ECODESIGNER
Em diferentes momentos de sua trajetória, o ser humano deve descobrir como construir ou morar de forma mais harmônica, com todo o respeito que o planeta merece. E, cá entre nós, quem vive um uma metrópole complexa como São Paulo não precisa negar espaço a atividades e atitudes que trazem mais calma ao dia a dia – e menos impacto ao meio ambiente. Você não precisa ser um designer renomado (e nem um designer) para fazer a sua parte. Há maneiras simples e quase sem custos com as quais você pode deixar a sua vida mais bonita de uma forma mais inteligente para o planeta. Vamos a elas.

Vencedora de um prêmio de design, esta cadeira é feita com jornal, garrafa PET e cola feita com água e fermento vencido. É obra dos estudantes de design Peter Plantan e Nusa Zupanc. Veja mais em 
http://​atitudesustentavel.uol.com.​br/blog/2012/02/24/​cadeira-e-feita-com-jornal-​garrafa-pet-e-fermento-ven​cido/


Mais do que uma palavra da moda, o termo "reciclar" é uma atitude de vida que veio pra ficar. Inspirado nesse conceito, o designer Garth Britzman criou uma espécie de toldo em um estacionamento nos Estados Unidos usando garrafas PET.

 



Para deixar a ideia ainda mais interessante, Britzman encheu o fundo de cada garrafa com um líquido (ou tinta) colorido. Como cada PET tem na sua base um formato que lembra uma flor, o resultado final deu à obra uma cara de jardim suspenso multicolorido.

 A cobertura vista de baixo...
e vista de cima.

Vocês conhecem o trabalho da designer Michelle Brand? Eu não conhecia até ver o link de um post de A.Moderna no twitter. Fui lá conferir e simplesmente amei o trabalho. "Eu adoro ver oportunidades de design onde a maioria das pessoas só vê problemas", explica Brand em seu site.


Sustentável, econômico e funcional. Assim são as paredes desse escritório feitas de garrafa PET que permitiram baixo custo no orçamento e com a simplicidade do material, proporcionou ao ambiente privacidade da área de trabalho e qualidade na iluminação natural. A criação do escritório japonês da Danone Waters que produz água engarrafada ficou por conta do estúdio de arquitetura Klein Dytham. 

No Brasil, a decoradora Brunete Fraccaroli fez uma parede de garrafas PET para um bar, em uma das edições mais antigas da Casa Cor São Paulo.

Agora vamos fazer uma cortina de renda com fundo de garrafas PET. Você vai precisar de garrafas PET nas cores verde e transparente, um furador, alfinetes, argolas, martelo, tesoura, alicate, um varão de madeira e vela.


Com a tesoura, corte a boca e o corpo das garrafas, tire os fiapos, e corte várias tiras com tamanho aproximado de 2,5cm x 5cm, ou do tamanho que você desejar. Corte as tiras de forma arredondada nas pontas e no centro, para fazer o corpo da cortina. E corte outras tiras de forma quadrada nas pontas para serem colocadas no varão de madeira.
Acenda a vela e aqueça a parte central de todas as tiras, depois feche-as no meio. Com o furador, faça furos em todas as tiras, mas não fure a parte de cima quadrada que será presa no varão. Agora comece a montagem dos adereços da cortina, colocando as argolas e os pingentes com a ajuda do alicate. Monte as fileiras uma de cada vez. Pegue os adereços montados e encaixe nas tiras de pet. Por fim ponha todas as fileiras no varão, usando o martelo.

Uma singeleza essa solução encontrada para o chuveirão numa prainha de Ilhéus. Foto enviada pela publicitária e Marlise Kielling, minha amiga do coração. Muito provavelmente, a comunidade local colheu todas essas garrafas da própria praia, jogadas como lixo por turistas e usuários muito mau educados e desinformados.


 

Outra cortina descolada: feitas com discos de vinil (aqueles mesmo) pintados.
Há 50 anos Heineken produzia “garrafa tijolo”: antes que o conceito de sustentabilidade fosse difundido pelo mundo, o holandês Alfred Heineken já visualizava estratégias para dar novas utilidades às garrafas de cerveja após a bebida ser consumida. A opção sugerida por ele era que elas fossem feitas no formato de tijolos, para serem reaproveitadas na construção civil.
 A ideia surgiu quando Heineken fez uma viagem à ilha caribenha de Curaçao. Lá ele avistou muitas garrafas descartadas na praia, por causa da falta de dinheiro para que os engradados fossem devolvidos às plantas de engarrafamento. A outra preocupação do holandês era com a escassez de materiais de construção em preços acessíveis à classe baixa.
 O empresário considerou esses dois pontos e então contratou o arquiteto holandês John Habraken para auxiliar a criar uma espécie de garrafa tijolo. Foram necessários três anos até que o modelo, chamado de Wobo, ficasse pronto. O projeto considerou tudo o que era possível para baratear a construção, por isso os engradados tinham o formato adequado para se encaixarem uns aos outros, reduzindo assim o uso de argamassa.
 As garrafas eram realmente capazes de exercer a função dos tijolos. Com mil Wobos era possível construir um abrigo de 33 metros quadrados. Em 1963, quando as garrafas surgiram, a fábrica holandesa produziu cem mil delas, em dois tamanhos: 350 e 500 mm, para tornar o uso mais eficiente. A ideia foi bastante inovadora, no entanto não teve continuidade. Hoje elas são consideradas relíquias, encontradas apenas nas mãos de colecionadores ou no museu da marca em Amsterdã. No entanto, existem duas construções feitas com o material, que comprovam a veracidade da informação e a utilidade das garrafas, ambas estão localizadas em propriedades da Heineken na Holanda.
Fonte: Archinect e CicloVivo.



Com informações do Archinect.

Fonte: CicloVivoA ideia foi bastante inovadora, no entanto não teve continuidade. Hoje elas são consideradas relíquias, encontradas apenas nas mãos de colecionadores ou no museu da marca em Amsterdã. No entanto, existem duas construções feitas com o material, que comprovam a veracidade da informação e a utilidade das garrafas, ambas estão localizadas em propriedades da Heineken na Holanda.



Com informações do Archinect.

Fonte: CicloVivoA ideia foi bastante inovadora, no entanto não teve continuidade. Hoje elas são consideradas relíquias, encontradas apenas nas mãos de colecionadores ou no museu da marca em Amsterdã. No entanto, existem duas construções feitas com o material, que comprovam a veracidade da informação e a utilidade das garrafas, ambas estão localizadas em propriedades da Heineken na Holanda.



Com informações do Archinect.

Fonte: CicloVivo
 
Cintos de segurança são produzidos em grande número e geram quantidades consideráveis de restos de material. Testes de fim de linha, um defeito cosmético, a não-conformidade com as especificações do produto ou uma cor ligeiramente diferente condenam o produto ao aterro. A inglesa Ting resgata este material e cria produtos como redes, bolsas, pisos, sacolas. Confira no site da empresa www.tinglondon.com

A designer holandesa Elena Goray , em cooperação com CONBAM , uma distribuidora de bambu na Alemanha, criou o banco de bambu Pile Isle. Um feixe de varas de bambu é preso em conjunto de forma simples e inteligente. Apenas 4 cintos de aço inoxidável são utilizados para dar forma ao banco, sem utilizar parafusos ou cola.



A cadeira Flux foi desenvolvida para ser dobrada para facilitar o seu transporte. Além do design ser lindo, também é inovador.


Bancos de papelão são charmosos, resistentes, práticos e bem baratinhos.






Pallets e caixas de hortifrutis, desses que são comercializados no Ceasa, são extremamente versáteis na decoração. Pallets podem ser base de cama, sofás, poltronas. Podem virar mesas de centro e as caixas de hortifrutis, podem virar estantes, como mostrado nas fotos acima. Mas, a sua imaginação é o limite.

Fibras sintéticas obtidas de embalagens de alimentos e bebidas são trabalhadas e viram móveis nas mãos do designer Stephen Burks. Autor da linha Dala, para a loja Dedon, os móveis são construídos a partir de uma armação de alumínio e têm desenho para serem usados de diversas maneiras, em diferentes cômodos e eventos. Com isso, o designer tenta mostrar que ter apenas alguns móveis que sejam flexíveis já é suficiente para uma casa.
O Direkt, projeto de arte e design de Hamburgo, na Alemanha, reutiliza gavetas antigas para a produção de móveis novos. O Projeto 1000 Gavetas reutilizou peças de móveis antigos. Montando um novo formato e encaixando as gavetas de diferentes tamanhos e cores, os móveis não se repetem. Veja mais no site. http://​atitudesustentavel.uol.com.​br/blog/2011/08/31/​projeto-1000-gavetas-recicl​a-moveis/







Com pneus usados dá para fazer bancos, fontes, mesinhas laterais e, com um pouco de criatividade, enfeitar paredes. As duas últimas fotos foram feitas na Casa Cor São Paulo deste ano.

Escultura feita com bambu cortado e floreira vertical que usam como vasos sacos de tecido impermeável. Ambiente da Casa Cor São Paulo 2012. 
"Paredes" de bambu, alguns nus, outros cobertos com tecido estampado, dando a bossa do projeto.  

Os designers do ateliê belga Outdoorz Gallery encontraram uma maneira criativa e útil de reaproveitar a sobra da produção industrial de tapetes. Os profissionais utilizam os retalhos têxteis para criar o Plof, um grande puff que até faz as vezes de sofá personalizado e colorido. Fonte: Ciclo Vivo
O encosto da cadeira foi feito com tacos de golf; a poltrona ganhou revestimento de rolhas, e  o tacho deu vida ao puff.


 Rolhas e sobras de tecidos se tranformam em guirlandas
Rolhas também podem virar apoio de panela.

Cadeira feita com carrinho de supermercado

  Tem papel sobrando em casa? Veja a dica para fazer um cesto usando papel. 1. Corte e dobre o papel em tiras compridas. Quando maior você quiser a cesta, mais compridas as tiras devem ser.  2. Costure na máquina a borda das tiras, para que fiquem firmes. Caso você não tenha máquina de costura ou habilidades para isso, você pode fazer esse acabamento usando um grampeador. 3. Entrelace as tiras, começando pela base (do tamanho que preferir) e depois subindo. Utilize cola para firmar. 4. Use clipes para auxiliar no processo e ir deixando a peça firme. 5. Esconda as pontas das tiras horizontais nas tiras verticais, e não esqueça de colar. 6. Quando chegar na altura desejada, esconda as pontas das tiras verticais por dentro do cesto, prendendo junto com as outras tiras.
O arquiteto francês Laurent Saint Val foi inspirado pela tradicional arte de fazer cestas em forma de casulo, compostas de tecelagem de fibras de plantas naturais disponíveis localmente, para criar um projeto habitacional para Port-au-Prince, Haiti.
As unidades residenciais são concebidas ao longo de um alinhamento vertical, de modo que não têm quaisquer efeitos adversos sobre a densidade estrutural global da área. Além disso, os elementos naturais disponíveis localmente são usados como materiais de construção. A opção é sustentável e também vantajosa para o esforço de reconstrução em curso no Haiti.
 O bambu, um dos itens principais do projeto, é uma planta multiuso que tem a particularidade de funcionar como a madeira e pode produzir uma riqueza incrível de conhecimento para criar e construir. Em todo o mundo, o bambu é usado em uma infinidade de ferramentas, objetos, móveis entre outros. O projeto habitacional de bambu poderia ser comparado a um objeto de arte tradicional ou à escultura de um totem. A arte da cestaria ou tecelagem com fibras de plantas poderia ser aplicada a este habitat, que adota essa forma de casulo.
Este local é concebido para acomodar três famílias. As salas comuns são colocadas na parte de baixo e os dois espaços acima são destinados à habitação. No entanto, a estrutura é ajustável sendo capaz de responder a uma diminuição ou aumento da unidade familiar. Fonte: Ciclo Vivo.
Luminária charmosa, tem como base uma cafeteira italiana e cúpula de forma de pudim.

 









Da esquerda para a direita, luminárias feitas com garfinho e colherzinha descartáveis, de copinho de "danone" e de feltro

Esta leva pulseiras plásticas. No meio, luz fria econômica. Simples assim.
 Caixas plásticas coloridas são moldura para um pendente sofisticado (note no meio das caixas). Detalhe: em cada caixa, uma potente lâmpada está instalada. Para ambientes grandes, que necessitam de bastante luz artificial.

 Um faqueiro desparcerado e tampas de garrafa PET de cinco litros são as bases dessas luminárias criativas

Fontes: 101 Anos de Design, Editora Abril; Gecko, Vida Sustentável, Salve o Planeta