A MORTE DO BEGE. SERÁ MESMO?
Para alguns, chegou ao fim a era dessa cor icônica
Em um artigo escrito para a revista "Conceitual", da ABD, o designer de interiores Fabio Galeazzo é categórico: chegamos ao fim do uso imperativo do bege.
Será mesmo? O que fazer com os belíssimos ambientes nascidos de uma palheta coalhada de tons terrosos, brancos diversos, beges de todas as estirpes? Para ele, esses são ambientes do passado e evocam uma terrível sensação de mesmice, de falta de ousadia.
Ouso discordar um bocadinho desse profissional que eu respeito muito: cor demais em um ambiente é sufocante, enjoa fácil. Igual a um perfume vaporado em excesso.
Ambientes criados pela designer Débora Aguiar, que tem um longo trabalho baseado em tons terros, beges e brancos variados.
Prefiro usar as cores em sussurros, em pinceladas. Um toque aqui, outro ali, sempre tendo como base cores neutras. Isso me parece mais sensato, me dá a sensação de harmonia, paz, de que a decoração vai "durar" mais, que passará ao largo do decor datado.
Estou errada? É só uma sensação? Ainda sou uma designer do passado? Pode ser. Não sou imune à crendice popular que prega o espanto a tudo aquilo que soa novo demais.
Mas, voi là. Cor é vida, sempre. Com parcimônia, acho, fica melhor. Para saber qual é o seu tom, leia o artigo de Galeazzo reproduzido abaixo:
A MORTE DO BEGE
O chic frígido e os sofás imundos
por Fabio Galeazzo
As mudanças sócio-comportamentais do mundo digital, e econômuicas, ocorridas pela ascensão dos países emergentes, e que diariamente invadem e transformam nosso estilo de vida e hábitos de consumo, têm gerado resultados irreversíveis na humanidade.
Na decoração, felizmente, é cada vez mais crescente o número de profissionais que adotam o uso da cor na busca de soluções estéticas que refletem a própria personalidade e a dos clientes.
O que antes era considerado pelos "cromatófobas" como extravagante e ousado, no mundo contemporâneo tornou-se uma ferramenta na busca pela liberdade de expressão.
Segundo Jung, "as cores são a língua nativa do subconsciente". Não só refletem nossos valores, mas afetam e moldam a maneira como vivemos -- por vezes funcionando como um antidepressivo, um antídoto contra a tristeza; uma terapia.
Com isso, é libertador notar que, chegamos ao fim do uso imperativo do bege, cor que ascendeu na história da civilização ocidental como fórmula infalível para se evitar mensagens indesejadas, tornando-se símbolo de uma época em que os conceitos de bom-gosto vinham de fora para dentro de mode etnocêntrico.
Para mim, um ambiente todo bege, muitas vezes é impressionanantemente sombrio e tedioso e conta uma história de superficialidade, um testemunho dos tempos de uma sociedade regida pelo medo pela insegurança.
Medo de amar? Medo de errar? Insatisfação? Vontade de agradar a tudo e a todos? Não suporta críticas? Não ouse, escolha o bege!
É triste, neste momento onde tanto se comenta sobre economia criativa, vivermos em um dos maiores laboratórios do mundo e, ao folhear revistas e visitar mostras de decoração, notar o crescente número de colegas que mergulham nesse universo chic-frígido das camas sem tesão e dos sofás imundos disfarçados pelo tom bege.
Perguto: onde buscamos nossas raízes? Nossas referências? Em algum hotel de Milão? Na vizinha Miami? Hello, brasilidade!
Claro, toda unanimidade é burra e simplesmente gongar, repudiar e tripudiar sobre o excesso do bege seria ato desrespeitoso com um passado glorioso e um presente internacionalmente reconhecido. Tem quem gosta e deve ser respeitado.
Quer inovar? Sede de amar? Provocar sensações? Deixar um legado? Assuma seu tom.
Fabio Galeazzo é designer de interiores, consultor e proprietário da Galeazzo Design, empresa multidisciplinar de criação - www.fabiogaleazzo.com.br. O artigo foi escrito para o número 4 da revista "Conceitual", da Associação Brasileira de Designers de Interiores (ABD).
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