sábado, 2 de junho de 2012

AVENTURA DE VIVER

"VAMOS LÁ, TENTEM DE TUDO AO MENOS UMA VEZ.
E, SE FOR BOM, MANDEM VER NO REPETECO!"

Confesso: não sou das pessoas mais pacientes com a mesmice e a mediocridade. Me acostumei, ao longo da vida, a conseguir praticamente tudo o que quis, desde que não exigisse uma conta corrente milionária.

De um jeito ou de outro, desde os 15 anos, eu corria atrás, sem chegar a botar os bofes de fora, e as coisas sempre davam certo. Dona Pilar, minha mãe, uma vez comentou que não entendia como eu sempre dava um jeito de realizar tudo o que me propunha, contra todas as previsões lógicas.

Talvez os tempos fossem outros, talvez eu tivesse ímpeto maior, mas o fato é que pouco ficou pelo caminho por fazer, ao menos algo que tivesse tido, em algum momento, alguma relevância. E isso me conforta, aquecendo o coração na certeza de que, se eu morresse amanhã (o que, francamente, não espero que aconteça), nada teria ficado na vontade. Porque, meninos e meninas, acreditem: eu vivi. Eu vivo! E saboreio intensamente cada gota dessa aventura fantástica que é respirar e abrir os olhos para cada novo amanhecer.
 

Gosto de pensar que a vida me foi generosa e que a ela devo todas as reverências. Se mais não tenho, é porque ainda ou já não dá. Bens materiais vêm e vão, não me sangram o espírito ao deixarem meu convívio. Queimo navios tocando lira, misturando alegremente a História, quando não adianta mais olhar para trás, quando o que passou ameaça tornar-se uma âncora dolorida a impedir novas rotas.

Mas, o que me falta não me afeta, não me tira o sono - a não ser, talvez, os credores, esses chatos mal humorados, pobres criaturas insensíveis que com certeza têm uma vida infinitamente mais chata que a minha.

Não consigo imaginar aquelas advogadinhas estagiárias, que ligam nas horas mais improváveis, informando estar-me disponibilizando um acordo para estarmos chegando a um acordo ideal, na pista da Luxúria, por exemplo, montadas em vinil. Ou numa platéia de teatro sem qualquer ator global. Mas até essas chatices aprendi a tirar de letra. Devo, não nego, pago se e quando puder. Passado o primeiro susto e com o bendito fim da condenação dos devedores às galés, aprendi a exercitar a paciência e a esquizofrenia social.

Divido o mundo entre os que vivem e os que tratam de não deixar que os outros vivam. E para estes últimos, só guardo desprezo. Ou talvez nem isso - talvez uma peninha passageira, até o próximo telefonema gerundiano.

Para que entendam, mesmo que não tenham tido paciência de chegar até aqui, meu prazer de viver independe do saldo no banco. Não tenho nem de longe o que sei que aparento, noblesse oblige, é o hábito de não descer do salto que veio no sangue de muitas gerações de esnobes de quatro costados.

Consigo ser feliz sem um décimo do que já tive um dia e sem o status profissional que tantos atraía para minha órbita, os mesmos que saíram rapidinho quando não mais lhes era útil. Esses são os que não fazem falta. Já foram tarde. E ao expulsar os que não me merecem de meu convívio, abro espaço para novos amigos que me gostam e entendem como sou.

E se, camaleoa irrequieta, eu mudar de novo e mais uma e outra vez, quem vale a pena estará comigo. Nunca olho no olho, mas ao meu lado e de olho no horizonte que acredito estar cheio de surpresas. Boas, más - surpresas.

E lá vamos nós, degustando um dia após o outro até que nada mais haja para degustar. Nesse dia, as luzes se apagarão e o mundo poderá me esquecer à vontade. Porque o que realmente importa é o que deixamos na memória de quem nos quer bem. O resto... é resto.

***

É impressionante como a maioria das pessoas complica a própria vida, com medo da opinião de terceiros, quartos, quintos, vivendo por ditames que não correspondem a suas convicções, frustradas por nunca terem se permitido ousar, ir além, se jogar...

Tenho pena, muita pena de quem desperdiça essa aventura deliciosa e instigaste chamada viver.

Vamos lá, tentem de tudo ao menos uma vez. E, se for bom, mandem ver no repeteco!


Este texto foi escrito por minha amiga jornalista Luiza Pastor. Ela publicou no Facebook e eu o "roubei" dela. A síntese do seu pensamento é  o meu, ou pelo menos, aquilo que eu gostaria de ser e ainda não consegui. Talvez seja preciso viver mais, que é o que realmente importa, não Luíza, querida?